A Fé e o Mercado da Ilusão

-Promoção! Promoção! Promoção! Óleo de Israel, Fogueira dos milagres, campanha dos 70 profetas, vigília da libertação, quebra de maldição hereditária, aliança dos discípulos, campanha da prosperidade. Venha e participe conosco na Igreja da Força de Deus! Gritava um cara com um megafone em plena praça da polícia no centro de Manaus e que tinha um cheiro de gambá.

Mais adiante, não sei se uma velha ou um velho, pois a indumentária e nem as aparências não davam para descrever, sentava em uma mesa com uma venda nos olhos começava a fazer revelações acerca de casamento, mal olhado, inveja, namoro, desemprego, ciúme e dinheiro; Além de vender uns amuletos para sorte.

Na mesma praça, havia batedores de carteiras, flanelinhas, riscadores de carros, vagabundos, prostitutas e uma turma de velhinhos aposentados que se reuniam ali todos os dias para fumar, tomar um cafezinho e jogar dama.  Também o espaço é dividido com panfleteiro e vendedores de jogo do bicho e lotérica federal. Alguns hippies, usuários de maconha e uma meia dúzia de aviões que passam drogas. Tinha até um assador de galeto na praça com uma placa “Frango Ungido na Farofa”.

Era uma gritaria terrível. E ao longe um quiosque de café com leite pingado, acompanhado com pão na manteiga prensado na chapa.  Por trás de um chafariz vi um careca gordo parecido com um monge, ao mesmo tempo ele parecia com um destes carecas que vendem incensos e balas, estava sentado com as pernas cruzadas em alta concentração com os olhos fechados em pleno barulho.  Também havia um velho com uma viola na mão, uma jovem com uma sanfona e um garoto com um triangulo, cantando musicas evangélicas e vendendo seus cds. A musica era muito feia e eles cantavam terrivelmente desafinados.  Pelo outro lado da banca de jornal, um nordestino contava seu testemunho a um grupo de pessoas que paravam ali para ouvi-lo. Fiquei espantado quando vi uma turma de uma igreja evangélica vendendo umas bíblias premiadas para sorteio de 10 carros novos, com objetivo de arrecadar fundos para construir o templo central.   Estava quase distraído olhando para uns caras de branco que faziam a medição de pressão arterial, todos de um centro espírita dissidentes de um racha, quando uma jovem indiana me pegou pela mão e sussurrou no meu ouvido; posso ler sua mão? Então virei-me para ver melhor a jovem e pude observar que não era indiana, mas sim cigana. Tinha um rosto muito bonito, porem um bafo de onça intolerável: Por Deus!  Então sai um pouco do meio da confusão e caminhei até uma banca de livros religiosos e tinha um livro que chamava muito a atenção das pessoas que passavam por ali e que tinha por título: A Divina Revelação do Inferno; ri muito do titulo, até que o dono da banca me perguntou o porquê de tanto riso?

Respondi pra ele: – Meu caro, o que de divino o inferno tem a ser revelado?

Esse cara ficou uma fera.  O policial esquecido de que estava de serviço, olhava atentamente a imagem de Sebastião, ídolo da igreja romana, um casal trocava carícias ao mesmo tempo em que colocavam umas fitinhas verdes nos pulsos e faziam uma espécie de juramento. Epa! Esses eram a turma do GLBTTS da comunidade Arco-íris de Jesus. Havia também um padre ou frei da igreja que contava sua historia de abandono da igreja a fim de se engajar no movimento dos sem terra, sem casa, sem alguma coisa. E por falar em ex-padre, um senhor de quase sessenta anos celebrava uma missa ecumênica, pois ele havia sido expulso da igreja católica por assumir publicamente seu homossexualismo, hoje já liberto da pratica do pecado e é uma nova criatura. Já cansado e com muito calor no local, pois aqui a temperatura não refresca e com o clima um pouco abafado, procurei alguma barraca para me reidratar, foi quando cheguei a uma barraca e pude conhecer a cerveja gospel Premium, isso foi à gota d’água ou da gelada.   Um grupo de teatro de rua encenava uma peça que até agora estou tentando entender; Misturavam mitologia grega com tradição romana.  Uma banca de nova era bombava de pessoas comprando as pirâmides de cristais, bolinhas de vidros e pingentes de brilhantes.   Até um argentino vendendo camisetas e tatuando alguns seguidores de Che Guevara, e olha que a fila era grande.  Quanta grana queimada em nome da fé e ninguém se importavam com um mendigo que pedia um pão com leite do quiosque do fundo (Oh! que saudade do café do Pina) e nem muito menos com um morador da praça que dormia ao lado do banco de concreto. Na realidade a turma toda não estava preocupada com ninguém, mas todos estavam muito preocupados com eles mesmos.  Então pensei!  Conversei comigo mesmo com calma, sem discutir comigo.  Alias, a única coisa boa em conversar consigo mesmo, é que por mais que seja acalorada  a discussão, você sempre tem razão. Então tive uma visão. Pensei que estava maluco, mas de fato ao olhar ao longe, vi um homem com uma túnica larga e comprida, barba longa e com um cajado na mão:

-Moises? Ou será Noé? Bem no alto de um monumento.  Fui atraído por esta figura caricata, impulsivamente. Até que quando cheguei bem perto, pude observar que realmente eu não estava maluco. A figura é que era um maluco fraco de mente, que morava também na praça. E ele gritava em alta voz. – Saiam todos, porque vou explodir a nave!  E olha que o maluco todo sujo e com uma catinga terrível já estava atraindo seguidores, ao ser confundido com um reptiliano.

Bummmmmmmm!!! Um barulho estrondoso acontecia naquele momento com muita fumaça no ar. Era muita gente correndo de  um lado e para outro e outros passando por cima de crianças e velhinhos , por uma fração de minutos a praça estava vazia. Um transformador de energia havia explodido  e causado um alvoroço terrível. Mas tudo bem, pude observar que tudo era um grande mercado da ilusão tentando usar a fé com concreção.

 

 

 

O Senhor reservou uma boa quantidade de pastores que não deixaram de anunciar a salvação de Jesus Cristo pela sua cruz.

 

Deus abençoe o teu coração.

 

Pr. França Azevedo / Igreja Batista das Nações

“Uma igreja para quem não gosta de igreja e para quem a igreja não gosta”

 

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